Estava eu no supermercado na quarta à noite quando encontrei o amigo Niels Rump, que me perguntou o que eu pretendia fazer nos próximos dias. Disse a ele que trabalharia até sexta e que esperava conseguir dar uma velejada mais longa na próxima semana, só que o meu "longa" a essa altura era no máximo para Itapuã ou algum lugar na Lagoa dos Patos.
Me pergunta o Niels:
-O que achas de uma velejadinha mais comprida, até o Uruguai com o Congere?
Só não fechei no ato porque já não tenho essa autonomia toda, mas a negociação do alvará caseiro foi tranquila e já na quinta logo cedo aceitei o convite recebido do Niels em nome do comandante Sergio Neumann.
A previsão do tempo se confirmou e a navegada até Punta del Este e Piriápolis foi espetacular, de cerca de 440 milhas com vento e mar favoráveis todo o tempo, muito sol e noites estreladas. Fizemos 46 horas do Veleiros até o porto de Punta, non stop, uma média ótima e somente viável para brinquedos de grande porte como o Congere (77 pés). Confirma-se assim a teoria do "Nego" Márcio Pinto Ribeiro, que diz que a única coisa melhor que um barco grande é um outro maior ainda.
Para não chatear a audiência vou contando a história na medida em que as fotos e os videos vão entrando...
A tripulação de cinco pessoas teve o comandante Sergio Neumann, o Niels Rump, o nosso amigo Dog (que até então eu não tinha a menor idéia que se chamava Henrique D'Avila), o marinheiro Dudu e eu.
Filosofadas com o comandante...
Por volta do meio dia o vento entrou novamente de leste, possibilitando uma boa velejada de genoa 2 e com toda a vela grande em cima, já no final do Canal da Feitoria até Rio Grande e os molhes da barra.
Cruzamos os molhes por volta das 14:30 de sábado, cerca de 18 horas após a saída do VDS.
O mar estava marrom na saída da barra, com muita água saindo em função das recentes chuvaradas no Guaiba e nas bacias dos rios que desaguam da Lagoa dos Patos. De qualquer forma a comemoração da entrada no mar foi com um churrasco de almoço na popa, com o marinheiro Dudu começando a mostrar os seus talentos multi-uso.
A entrada no mar foi com um bom leste de cerca de 15k, optamos por um ângulo um pouco mais orçado no início da descida, para dar uma boa distância do banco do Albardão. Ao menos eu pensei assim...
A navegada com agua limpa é outro assunto...
... e com alto astral e boa parceria fica muito melhor.
Vida dura!!
O segundo por-do-sol foi no mar, já que naquela hora velejávamos nos afastando da costa.
Durante a noite foi a passagem do tal banco do Albardão, acordei do meu descanso já ao amanhecer e ainda tive que aguentar a gozação da turma. Eu mesmo tinha feito recomendações de passarmos longe da costa naquele ponto, até por desconhecimento de causa e porque o seguro morreu de velho. Não chega a ter risco de encalhe com o calado atual de 2,9m do Congere, mas de qualquer forma a carta mostra que o fundo diminui de uns 20 para 6m no ponto crítico, o que poderia deixar o mar mais batido e xarope.
O pessoal (o comandante inclusive) não só passou perto como também passou exatamente em cima do tal ponto da carta, segundo me disseram o fundo nunca diminuiu de 11m.
A imagem abaixo mostra o tracking do Congere defronte ao farol e ao suposto banco.
O amanhecer do dia 24 também foi show de bola, essas imagens foram feitas entre 6:10 e 6:18 desse dia, já no Uruguai e na aproximação do Cabo Polônio.
Impressões do comandante ao amanhecer, já com a tecla SAP em portunhol.
A aproximação de La Paloma no final da manhã, já com asa-de-pomba e amurado a BE.
Não conseguimos fazer o meu iPod se conectar ao som do Congere, então meu momento contemplativo de puro jazz foi no modo egoista mesmo. A essa altura o som era Mo' Better Blues, de Brandford Marsalis.
Aterramos bem em La Paloma neste bordo em popa rasa.
Esse é o Dog nos preparativos da feijoada do almoço do dia 24/01. Comidinha bem leve, como se pode ver.
Aqui está o Niels gerenciando o estoque da Stellinha, a verdinha gelada que nos acompanhou durante toda a viagem. Neste ítem o Dudu foi de novo muito eficiente, mal baixava o estoque no cooler externo e já vinha ele com mais uma carguinha e gelo. Navegar com sede não tem graça!
Alguém aí desconfia por que o Dog ganhou este apelido, ainda nos tempos de guri??
Após o jaibe, já com amuras a BB e na perna final até José Ignacio e Punta.
O Congere ancorado ao largo do porto de Punta.
O barco visto de terra, já à noite e após os nossos mejillones al provençal em terra firme. Encontramos os amigos Tatu e Marcelo Aaron, que estavam correndo as regatas da semana com o Viva, do Pedrão Couto do RJ.
Neste dia navegamos a motor até Piriápolis, a cerca de 20 milhas a oeste e entrando para o Rio da Prata. Chamou a atenção o enorme número de mães d'água no percurso, é praticamente impossível mergulhar nessas águas sem se encostar nessas belezinhas (são aquelas manchas que aparecem na foto).
A aproximação costeando o enrocamento de BE para quem chega do leste.
A simpática praia de Piriápolis na vista para oeste...
O Congere atracado no pier de abastecimento de Piriápolis...
Mais tarde recebemos a atracação a contrabordo da mais nova máquina de regatas argentina, o Lola, um Javier Soto de 52', todo de fibra de carbono e que mais parece mais um monotipo gigante.
A manhã do dia 26/01 foi dedicada à retirada do Congere da água, em uma operação relativamente complexa coordenada pelo mestre Álvaro, o operador-chefe do Travelift.
A quilha ficou a poucos centímetros do chão, já no final do curso das cintas do Travelift.
O Congere já descansando em terra, à espera das toras de escora.
Nos chamou a atenção o simpático rebocador Fritjhof, uma belíssima relíquia de madeira do início do século passado, escorado em seco na entrada do porto.