quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

22 a 25/01/2009 - Velejada a Piriápolis - Uruguai


Estava eu no supermercado na quarta à noite quando encontrei o amigo Niels Rump, que me perguntou o que eu pretendia fazer nos próximos dias. Disse a ele que trabalharia até sexta e que esperava conseguir dar uma velejada mais longa na próxima semana, só que o meu "longa" a essa altura era no máximo para Itapuã ou algum lugar na Lagoa dos Patos.

Me pergunta o Niels:
-O que achas de uma velejadinha mais comprida, até o Uruguai com o Congere?


Só não fechei no ato porque já não tenho essa autonomia toda, mas a negociação do alvará caseiro foi tranquila e já na quinta logo cedo aceitei o convite recebido do Niels em nome do comandante Sergio Neumann.

A previsão do tempo se confirmou e a navegada até Punta del Este e Piriápolis foi espetacular, de cerca de 440 milhas com vento e mar favoráveis todo o tempo, muito sol e noites estreladas. Fizemos 46 horas do Veleiros até o porto de Punta, non stop, uma média ótima e somente viável para brinquedos de grande porte como o Congere (77 pés). Confirma-se assim a teoria do "Nego" Márcio Pinto Ribeiro, que diz que a única coisa melhor que um barco grande é um outro maior ainda.

Para não chatear a audiência vou contando a história na medida em que as fotos e os videos vão entrando...

A tripulação de cinco pessoas teve o comandante Sergio Neumann, o Niels Rump, o nosso amigo Dog (que até então eu não tinha a menor idéia que se chamava Henrique D'Avila), o marinheiro Dudu e eu.


Saída do VDS às 20:30 do dia 22/01, ao por-do-sol, com bom vento S-SE de 15-20K. Saímos com a grande rizada e a motor, já que o ângulo era bem de contravento até a chegada em Itapuã.

Jantamos e iniciamos os quartos de vigia da primeira noite, com 5 pessoas tentamos organizar algo parecido com o esquema 2X3, onde cada um fica 2 horas na vigília e 3 descansando. Registre-se aqui nossa surpresa positiva com as bóias luminosas e faroletes do Guaiba, quase todos funcionando perfeitamente.
Entramos na Lagoa dos Patos por volta das 23:30, abrimos a genoa e tiramos o motor, para uma ótima velejada de través até cerca das 4hs, quando o vento enfraqueceu e tivemos que dar uma empurradinha com o Mercedão.

Filosofadas com o comandante...


Por volta do meio dia o vento entrou novamente de leste, possibilitando uma boa velejada de genoa 2 e com toda a vela grande em cima, já no final do Canal da Feitoria até Rio Grande e os molhes da barra.


Cruzamos os molhes por volta das 14:30 de sábado, cerca de 18 horas após a saída do VDS.



O mar estava marrom na saída da barra, com muita água saindo em função das recentes chuvaradas no Guaiba e nas bacias dos rios que desaguam da Lagoa dos Patos. De qualquer forma a comemoração da entrada no mar foi com um churrasco de almoço na popa, com o marinheiro Dudu começando a mostrar os seus talentos multi-uso.

A entrada no mar foi com um bom leste de cerca de 15k, optamos por um ângulo um pouco mais orçado no início da descida, para dar uma boa distância do banco do Albardão. Ao menos eu pensei assim...


A navegada com agua limpa é outro assunto...


... e com alto astral e boa parceria fica muito melhor.




Vida dura!!

O segundo por-do-sol foi no mar, já que naquela hora velejávamos nos afastando da costa.


Durante a noite foi a passagem do tal banco do Albardão, acordei do meu descanso já ao amanhecer e ainda tive que aguentar a gozação da turma. Eu mesmo tinha feito recomendações de passarmos longe da costa naquele ponto, até por desconhecimento de causa e porque o seguro morreu de velho. Não chega a ter risco de encalhe com o calado atual de 2,9m do Congere, mas de qualquer forma a carta mostra que o fundo diminui de uns 20 para 6m no ponto crítico, o que poderia deixar o mar mais batido e xarope.

O pessoal (o comandante inclusive) não só passou perto como também passou exatamente em cima do tal ponto da carta, segundo me disseram o fundo nunca diminuiu de 11m.

A imagem abaixo mostra o tracking do Congere defronte ao farol e ao suposto banco.
O amanhecer do dia 24 também foi show de bola, essas imagens foram feitas entre 6:10 e 6:18 desse dia, já no Uruguai e na aproximação do Cabo Polônio.



Impressões do comandante ao amanhecer, já com a tecla SAP em portunhol.


A aproximação de La Paloma no final da manhã, já com asa-de-pomba e amurado a BE.

Não conseguimos fazer o meu iPod se conectar ao som do Congere, então meu momento contemplativo de puro jazz foi no modo egoista mesmo. A essa altura o som era Mo' Better Blues, de Brandford Marsalis.
Aterramos bem em La Paloma neste bordo em popa rasa.
Esse é o Dog nos preparativos da feijoada do almoço do dia 24/01. Comidinha bem leve, como se pode ver.

Aqui está o Niels gerenciando o estoque da Stellinha, a verdinha gelada que nos acompanhou durante toda a viagem. Neste ítem o Dudu foi de novo muito eficiente, mal baixava o estoque no cooler externo e já vinha ele com mais uma carguinha e gelo. Navegar com sede não tem graça!
Alguém aí desconfia por que o Dog ganhou este apelido, ainda nos tempos de guri??

A aproximação final em La Paloma, dando um jaibe logo em seguida. Daquele ponto para baixo a costa dá uma pequena inclinada para leste, com relação ao rumo anterior.

Olha a concentração do timoneiro Niels.

Após o jaibe, já com amuras a BB e na perna final até José Ignacio e Punta.
Passando o Faro José Ignacio.


A chegada com Punta surgindo por baixo da retranca.
Os dois e a nossa companheira de bordo, a Stellinha.


Aqui já na faina de recolher as pequenas velas do Congere, na entrada do porto de Punta ao final da tarde. Chegamos após 46 horas desde Porto Alegre.
O Congere ancorado ao largo do porto de Punta.

O barco visto de terra, já à noite e após os nossos mejillones al provençal em terra firme. Encontramos os amigos Tatu e Marcelo Aaron, que estavam correndo as regatas da semana com o Viva, do Pedrão Couto do RJ.
Nossa vista do porto de Punta logo ao amanhecer de segunda-feira 25/01.

Neste dia navegamos a motor até Piriápolis, a cerca de 20 milhas a oeste e entrando para o Rio da Prata. Chamou a atenção o enorme número de mães d'água no percurso, é praticamente impossível mergulhar nessas águas sem se encostar nessas belezinhas (são aquelas manchas que aparecem na foto).
A aproximação no porto de Piriápolis com o Dudu na proa. Alguém aí desconfia porque um amigo nosso lá do Veleiros apelidou o rapaz de "Pequeno Buda"?

A aproximação costeando o enrocamento de BE para quem chega do leste.
A nossa vista do morro de Piriápolis a partir do pier...
... e o delicado Travelift que iria levantar o Congere no dia seguinte.

A simpática praia de Piriápolis na vista para oeste...
... e para o leste, com o porto ao fundo.
No mesmo dia 25/01 pela manhã recebemos a visita dos dois Fast 345 Victor, da família Barth, e Easy-Going, do comandante Joel do Iate Clube Guaiba. Ambos estavam voltando de um passeio em Buenos Aires e pararam em Piriápolis para uma pequena manutenção no Victor.
O Easy-Going foi meu barco de 2002 a 2006, quando recebi o Friday Night. Foi bom ver meu ex-barco velejando e sendo mantido no capricho pelo comandante Joel, que me disse que recentemente se aposentou e que pretende passar o próximo ano a bordo ao longo da costa do Brasil.
Estrelas a barlavento para eles e para o pessoal do Victor!
O Congere atracado no pier de abastecimento de Piriápolis...
... e mais um churrasco a bordo, que ninguém é de ferro!

Mais tarde recebemos a atracação a contrabordo da mais nova máquina de regatas argentina, o Lola, um Javier Soto de 52', todo de fibra de carbono e que mais parece mais um monotipo gigante.

A manhã do dia 26/01 foi dedicada à retirada do Congere da água, em uma operação relativamente complexa coordenada pelo mestre Álvaro, o operador-chefe do Travelift.

A quilha ficou a poucos centímetros do chão, já no final do curso das cintas do Travelift.

O Congere já descansando em terra, à espera das toras de escora.
Mission accomplished!!

Nos chamou a atenção o simpático rebocador Fritjhof, uma belíssima relíquia de madeira do início do século passado, escorado em seco na entrada do porto.
Fim de viagem para mim e o Dog, que no mesmo dia voltamos de avião do novíssimo aeroporto de Carrasco. Alguma burocracia chata na imigração ("Se não entrou como é que vai sair??") e alguns papeizinhos e carimbos a mais, tudo resolvido no final.
O Niels e o Serjão deveriam voltar no dia dia seguinte, com o Pequeno Buda permanecendo em Piriápolis para os serviços de manutenção no barco.
Foi espetacular a viagem e a parceria, tomara que façamos outras. Por via das dúvidas acho que a Susi não me manda mais para o Super no meio da semana à noite.