A largada foi às 11:30 do domingo 19/09, na ponta do Gasômetro, com vento fraco e inconstante, muitas rondadas e buracos, o que durou até a altura da Ponta Grossa, quando o esperado leste/sudeste se apresentou, primeiro com média intensidade mas depois engrossando ao longo do dia.
Entramos na Lagos dos Patos às 17:40, já com o vento de leste puro pegando forte e a vela grande rizada, com rajadas de 30 nós, exatamente como antecipado pelos sites de previsão de vento (o http://www.windfinder.com/ é impressionante). O Madrugada desistiu em Itapuã, para evitar que uma pequena avaria se transformasse num prejuízo grande, enquanto que o Catu a essa altura estava bem atrás pois havia demorado para chegar no vento leste.
Essa perna durou 4,5 horas e foi muito sofrida e chata, especialmente depois de escurecer. As rajadas batiam em 35 nós e ficava difícil de evitar as pancadas das ondas, que varriam a turma toda. Talvez para quem não conheça, a sensação mais próxima deve ser a de estar dentro de uma máquina de lavar roupas, em centrifugação.
Pelo menos a noite estava estrelada, com uma bela lua cheia e não muito fria, o que ao menos amenizava um pouco o desconforto. Nossos bordos foram bem arribados e terminamos sendo ultrapassados pelo Catu, que velejou melhor no contravento. A quilha deles de 2,30m parece ter feito a diferença.
Montamos a ponta das Desertas às 23:10, entrando em mais um través para a volta a Itapuã e ao Guaiba, já que a essa altura o vento já estava de E-NE. Em seguida da montagem da bóia ouvimos pelo rádio a desistência do Catu, que ia na nossa frente, por avaria no sistema de leme.
Entramos em Itapuã no início da madrugada e às 2hs passamos no cotovelo do Canal do Junco, quando entrei para dormir depois de timonear sem parar por 14,5 horas, apenas com alguns "pipi stops" pelo caminho. O barco estava um caos, muito molhado por dentro, após todas as lambadas e lavadas das ondas da lagoa.
Devo ter dormido umas 3 horas, apesar do ambiente não ser exatamente o Sheraton, só que nesse meio tempo o vento parou completamente e ficamos boiando contra a correnteza, sem nada que pudéssemos fazer a respeito. Amanhecemos na altura da Ponta Grossa, nos arrastando com uma merreca muito fraquinha. O consolo era ver que os barcos da outra classe, os regateiros da ORC, estavam logo ali na nossa frente, na mesma situação.
O amanhecer do 20 de setembro no Guaiba, ao fundo a ponta da Serraria
A chegada no farolete 134 foi às 7:53 da data Farroupilha, fechando uma das regatas mais "guasca" de que participei. Muito sofrimento e trabalho, nada mais apropriado para a data em que a gauchada comemora uma guerra que perdeu...
A brincadeira toda levou 20h23min, para mim a mais longa de várias Seival de que participei. O engraçado é que essa regata é sempre casca-grossa e sofrida, lá na pauleira da Lagoa dos Patos (que sempre tem!) a gente fica pensando "o que é que eu estou fazendo aqui". Só que depois termina e parece que o povo esquece tudo, então lá vai de novo no próximo ano.
A tripulação animada depois da noite mal dormida (ou não dormida) e 20h de regata
Terminamos ganhando na categoria Bico-de-Proa, em função da desistência do Madrugada e do Catu, que estavam na nossa frente quando sairam da regata. Em outra circunstância eu talvez até ficasse chateado de ser premiado por causa disso, mas depois até fiquei contente de ter chegado com a turma e o barco (o bolso agradece...) inteiros.
A sequência de videos mostra vários momentos das nossas 90 milhas em mais de 20 horas.
A balonada "light" após a largada ...
A passagem pelo Mandinga, já com o leste comendo...
A passagem no canal do Campista, em Itapuã...
A descida de través até a Barba-Negra (vai que é um Dodge!) ...
O por-do-sol na Lagoa dos Patos, no início do longo contravento...
Mais uma balonada, ao amanhecer no Guaiba...
A chegada, finalmente!