sexta-feira, 30 de setembro de 2011

24 e 25/09/2011 - De Recife a Fernando de Noronha no Congere

Os barcos ancorados no porto de Fernando de Noronha


Realizei o desejo de velejar na Recife-Fernando de Noronha (a 'Refeno') e terminei descobrindo porque essa é talvez a regata mais desejada do Brasil. O convite veio do Congere do comandante Sergio Neumann, no qual eu já havia velejado até o Uruguai no ano passado.

A preparação pré-regata foi meio apressada, já que a confirmação do convite veio somente na terça-feira anterior à largada no sábado, mas ainda assim deu tempo para acertar as coisas no trabalho e conseguir as passagens POA-Recife e F.Noronha-POA.

Viajei com o amigo Niels Rump e a chegada em Recife na 6a-feira 23/09 teve algum estresse, pois a cia. aérea conseguiu perder minha bagagem, me deixando apenas com a roupa do corpo e um impermeável na mochila de mão, que aliás terminei nem usando. A agonia durou umas 3 horas,eu já estava quase saindo para comprar algumas roupas quando avisaram do "aparecimento" da bagagem, que além das minhas roupas carregava também a carga de reposição de erva de chimarrão para o barco, algo bem difícil de encontrar em Pernambuco.

No encontramos com a turma do Congere no Cabanga Iate Clube, o realizador da regata, que recebeu a todos com muita gentileza e simpatia. Dessa vez a nossa tripulação era composta pelo comandante Sergio Neumann, Niels Rump, Augusto Altreiter, Cicero Hartmann, Frederico Roth, Manfredo Flöricke, Paulo De Leo e Roger Lamb, todos do Veleiros, além do nativo João Paulo Lins e Mello, o popular Jotapê. Este último é uma figuraça, ex-comodoro do Cabanga e iminência parda por lá, já participou de nada menos que 14 edições da Refeno, conhece tudo da regata e das entranhas da ilha de Fernando de Noronha. Cabra arretado esse Jotapê!
 
O Congere teve que ficar ancordo ao largo do clube, por questões de calado especialmente na maré baixa. Na ida de bote inflável para o barco à noite avistamos o nosso principal competidor do dia seguinte, o veleiro carioca Indigo, de 80 pés, comandado por ninguém menos que o multicampeão Torben Grael.

O Indigo nos preparativos da largada


Na manhã de sábado 24/09 tivemos os últimos preparativos a bordo e a largada perto das 13hs no Marco Zero de Recife, dentro dos molhes da foz do rio Capibaribe. O dia estava ensolarado com vento leste-sudeste de 8-10 nós, um pouco fraco para as nossas várias toneladas do Congere.


Sem grandes esforços nos preparativos





O pessoal de Recife faz um evento bem legal na largada, com a apresentação de todos os barcos participantes perante uma arquibancada lotada, onde o pessoal da cidade saúda os velejadores e faz uma grande festa.

A arquibancada da largada no Marco Zero


Nossa largada foi junto com o Tomgape (ex-Touché, de 46') e o próprio Indigo, que nos passou ainda dentro do rio Capibaribe e já começou a abrir distância.

A largada no Marco Zero com o Tomgape...

... e o Indigo, que só iríamos rever no porto de F.Noronha.


Na entrada no mar montamos um farolete ao norte do porto de Recife e já assumimos o nosso rumo até Noronha, de 38° verdadeiros ou 60° magnéticos, os tais 60 que viríamos a olhar tantas e tantas vezes na bússola nos próximos dois dias.

Com o vento fraco de través decidimos colocar o gennaker para dar uma potência a mais no barco, nos levando a navegar a 10-10,5K, contra cerca de 9K que vínhamos obtendo velejando só de genoa. A navegada que já estava boa ficou espetacular, mas nossa alegria durou pouco. A adriça não aguentou a pressão do imenso gennaker navegando de través e estourou, nos dando um baita susto e muito trabalho para recolher a vela intacta de dentro da água.

A espetacular velejada de gennaker, que infelizmente durou pouco




Depois, a faina de recolhimento da vela do mar foi dureza



Enquanto uns trabalhavam para tirar os nós da camisinha do gennaker, que havia ficado a reboque no mar, outros já subiam no mastro para providenciar uma nova adriça e tentarmos novamente, já que aquela velocidade a mais poderia fazer uma boa diferença no final.


Já nos aproximando do final da tarde subimos o gennaker novamente, dessa vez sem a camisinha, o que requer alguns cuidados em se tratando de uma vela de mais de 350m2. Mais uma vez saímos navegando super bem mas logo em seguida a nova adriça também arrebentou. Mais trabalho para recolher a vela novamente e a partir daí seguimos em frente somente com a genoa.

Enquanto ainda estava tudo bem com o nosso gennaker


Desse momento em diante seguimos com uma nova escota na borda e uma trinqueta no estai intermediário, navegando confortavelmente com o mar macio e o vento já na casa dos 14-16K. O por-do-sol foi em algum lugar na costa do estado da Paraíba, mas já sem nenhum visual do litoral há bastante tempo.


O por-do-sol da primeira noite


A noite seguiu muito confortável e com o céu bastante estrelado, quando pudemos conferir a boa dica de navegação do Jotapê, o nosso nativo de bordo. A ilha de Fernando de Noronha é referência na navegação aérea entre o Brasil e a Europa, então todos os vôos saindo de São Paulo, Rio de Janeiro ou mesmo de Recife passam exatamente em cima da ilha. Assim, de tempos em tempos é só olhar para cima e seguir os aviões, bem fácil.

Nossa janta foi de massa com carne de panela, o Jotapê nem acreditou que estava em plena regata e jantando confortavelmente sentado na mesa. Melhor ainda a temperatura à noite, nada da umidade e frio com que estamos tão acostumados aqui pelos pagos.

O domingo 25/09 amanheceu também lindo, com o mesmo vento da mesma intensidade, apenas um pouquinho mais rondado para SE. O sol brilhou perto das 5h da manhã e a navegada continuou ótima. Nesse ponto já entramos na região dos ventos alísios, constantes de direção e intensidade e deixando o mar bem macio e sem buracos.

O amanhecer no mar no domingo 25/09

Aqui dei uma fisolofada sobre a ótima sensação de olhar em volta e só ver água por todos os lados


Perto das 9 da manhã recebemos uma visita muito legal de vários golfinhos, nadando e brincando junto com o barco. É lindo de ver mas difícil de filmar...

A gente tenta, mas filmar a passagem de golfinhos é dureza, os caras são muito rápidos


Aqui o Jotapê nos dá sua definição abalizada (nem tanto...) dos ventos alísios


A navegada de través com vento estável de 18K é simplesmente perfeita, ainda mais em um barco que não requer grandes sacrifícios na borda ou, como dizem os nossos amigos nordestinos, no "contra-tombo".

Ninguém na borda no barla...

... e o visual da navegada por sotavento



Navegada perfeita, fomos nos revezando no leme e no chimarrão. Mais tarde o nosso "almojanta" foi churrasco a bordo, preparado pelo Augusto. Churrasco em plena regata, se melhorar estraga!





 

Churras a bordo...

... e a companhia da nossa amiga Stellinha, que ninguém é de ferro


Durante o dia ouvimos pelo rádio a passagem do veleiro Ave-Rara e do Indigo na linha de chegada em Fernando de Noronha, por perto das 14h e portanto com 25 horas de navegada desde a largada.

Pegamos mais um belo por-do-sol no mar e o "Indio" Cícero pegou o leme para a aproximação final a Fernando de Noronha. Durante todo o dia vínhamos enxergando um barco navegando algumas milhas na nossa frente, mais por sotavento. Ficamos especulando quem seria e a única forma de saber era somente chegando perto ou ultrapassando o cara.

O Indio se puxou na timoneada e terminamos ultrapassando o Tomgape, um 46' de regata, na aproximação final junto ao mirante do Boldró. Fomos o terceiro barco a cruzar a linha, às 20:05hs (ou 21:05 no horário de Noronha) e após 31 horas de regata. O Tomgape chegou 3 minutos atrás de nós e outros 50 barcos deveriam estar chegando nas próximas horas ou dias.

O por-do-sol da última noite no mar...
...e o Indio caprichando no sprint final



O dia seguinte foi de arrumações no barco e de sairmos para um reconhecimento em terra. O Jotapê tinha reservado dois possantes buggies e foi com eles que circulamos pela ilha, que aliás tem a menor BR do Brasil. A BR-363 tem exatos 7km de ponta a ponta, do porto da ilha até a baía do Sueste.

Nossa 2ªfeira foi entre as belíssimas praias da Conceição, Cacimba do Padre, Baía dos Porcos e Sancho, esta última com seu acesso único por uma escada de metal espremida entre as rochas da falésia. O Magrao De Léo passou trabalho na volta, parece que é a nicotina cobrando o seu preço...


Café da manhã estranho... uns na Stellinha, outros no chimarrão e outros ainda na nicotina braba mesmo

Praia da Cacimba do Padre

Os Delta 36 - irmãos do Friday Night - estiveram bem representados com 8 barcos, que fizeram o percurso entre 35 e 40 horas

Visual do Morro do Pico a partir do ancoradouro do Congere, com o catamarã Aquamundo


Na terça velejamos pela ilha com o pessoal da revista Náutica, que iria fazer uma matéria sobre o Congere, terminando o dia com chave de ouro em um churrasco na praia da Conceição.

Ajuste da "bicha"...

... e o visual por sotavento da nossa velejada de terça


 Comandante Serjão e a Stellinha

A Patrulha Ambiental está ligadíssima, entramos por descuido em uma zona restrita e levamos um gentil puxão de orelhas dos caras...  certos eles!



O trimarâ Ave Rara, de 36 pés, que foi o fita-azul da Refeno 2011

O comandante e o imediato Niels

Impressões do Jotapê - nosso tripulante figuraça - no jantar a bordo


Meu retorno foi na quarta 28/09 pelo jatinho da Embraer da Trip, com escalas em Recife e Belo Horizonte. Antes passamos ainda pela praia do Atalaia e suas piscinas naturais.

O Congere no ancoradouro

Nosso meio de transporte na ilha, aqui com o Manfredinho (o nosso "Orangotanto de Sunga"), o Indio e o Niels dependurados

Time to go home...  snif snif...


O Congere ficaria na ilha até sábado, quando participaria da regata Noronha-Natal no próximo sábado e começaria o longo trecho de volta para casa no sul.

Tudo espetacular, espero voltar!!  Sou grato ao comandante Serjão e amigos!

sábado, 17 de setembro de 2011

17/09/2011 - Voltamos à Ativa no Velejaço Farroupilha

Voltamos à ativa depois de um longo e tenebroso inverno (literalmente!!), não lembro de outro tão frio e chuvoso nos últimos anos.

Depois da regata de Pelotas foram apenas duas navegadinhas curtas em Porto Alegre, aproveitamos para tirar o Friday Night da água e fazer a primeira pintura de fundo em 5 anos, mais polimento dos costados e algumas coisinhas mais. Tratamos bem o brinquedo, que ele merece!

O Friday Night "no estaleiro"


Nosso retorno foi no Velejaço Farroupilha, a regata para barcos não medidos que acontece simultaneamente ao tradicional Troféu Seival, a mais tradicional competição da vela gaúcha.

Fomos com este comandante e o Ferrugem, Barba Ruiva, Magrão Gói, Magrão Falcetta e o Guga Ximitão. O percurso de 22,6 milhas náuticas foi com largada na chaminé do Gasômetro às 11:40hs, descendo o Guaiba até o farolete 111 nas imediações da Ponta do Arado, retornando e chegando no farolete 134 junto à Ilha do Presídio. O vento se apresentou fraco de sul, rondando e variando de intensidade todo o tempo, mas nunca passou muito dos 10 nós durante toda a regata.

A tripulação do dia...

...e a nossa largada com a chaminé do Gasômetro ao fundo (foto de baixo: divulgação VDS).


Largamos bem na merreca, disputando posição no contravento com o Frers 36' Aquavit, que logo ficou para trás. Na sequência e na altura do glorioso Beira-Rio fomos ultrapassados pelo Delta 32' Marina 3, voando baixo no ventinho fraco, depois ainda pelo Shogum (Fast 395), que também não conseguimos segurar.

Nossa descida de contravento bem fraquinho...

...e o nosso concorrente Shogum, que mais uma vez nos deu um chocolate (divulgação VDS)

Na descida da Ilha do Presídio até o retorno no Farolete 111 ainda disputamos posição com o Alforria, um Fast 410 que estava inscrito na regata Seival e que tinha largado 5 minutos antes. Chegamos neles na descida, na altura da Ponta Grossa, depois seguimos pelo leste e eles foram arriscar achar algum vento lá do outro lado, o que terminou não funcionando. Nossa estratégia deu mais certo, montamos o farolete 111 com boa vantagem e cruzamos com eles ainda descendo, quando já estávamos retornando de balão.




Após toda a descida de zigue-zague no contravento tivemos também que dançar um pouco na volta, já que o vento era bem fraco de popa-rasa (ver imagem do track abaixo), o que nos deixaria com uma velocidade muito baixa. Optamos por andar mais orçados e dando jaibes, tentando alcançar o Shogum andando mais pelo leste e supostamente com menos correnteza contrária.



Andamos melhor do que de popa-rasa pelo canal, mas dessa vez a estratégia não deu certo para alcançar os adversários, a vantagem do Shogum já era grande e terminamos chegando em terceiro mesmo, atrás deles e do Marina 3. De qualquer forma a turma se divertiu, como sempre.

Descontração no retorno de balão



Faremos muitos outros!